O ensinamento do dióspiro - Gustavo Cunha

Observando um dióspiro, também conhecido por caqui nas terras dos nossos irmãos brasileiros, que esteja bem maduro, ficamos com a ideia que aquele alimento já deu o que tinha para dar. Ou seja, já passou do prazo de validade, apodreceu e, certamente, estará estragado. Comê-lo torna-se, então, impensável até porque poderá colocar em risco a nossa saúde.

Mas, nada mais estaria longe da verdade. De facto, o caqui, ou dióspiro, quando maduro e de fraca e débil aparência está no ponto ideal para servir de alimento ao homem e a Deus, já que, como o próprio nome indica, Diospyros tem origem no grego dióspuron que significa "alimento de Zeus".

De sabor, a princípio, estranho e exótico o dióspiro ganha, talvez apenas a longo prazo, um valor adquirido, um paraíso frugal, um óasis para um buscador de energia e vitalidade.

E o que é que isto tem a ver com Yoga? Pois bem, o nosso dióspiro, é também um renunciante. A começar pela própria cor - laranja - que aponta para um estado sátvico, a cor do céu ao nascer do sol, do despertar das brumas. Mas, como não é só o hábito que faz o monge, e havendo mais alimentos que partilham dessa mesma cor, vou concentrar-me no nosso fruto para expôr a minha perpsectiva do real ensinamento por detrás desta história.

É natural que todo e qualquer ser que à primeira vista nos pareça estranho, diferente ou inferior seja imediatamente excluído e ostracizado. Mas não deveria ser assim. Não pode ser assim.

Muito têm para nos ensinar aqueles que, mesmo não o sabendo, se permitem ser verdadeiros, iguais a si mesmos e ajudados, ajudando e partilhando, comungando e distribuíndo, pois esses são os verdadeiros mestres; seres da paz, da compaixão e do amor incondicional.

É dando que se recebe, e é no sacrifício de si mesmo que se alcança o Todo, o pleno, para lá do ego, das máscaras, dos papéis que assumimos.

Que, nesta quadra, possamos sentir a presença de uma força maior atuando a todo o momento e aproveitemos cada oportunidade que nos é dada para, como diz a sabedoria popular, fazer o bem sem olhar a quem.


Feliz Natal e um próspero Ano Novo,
Gustavo Cunha

_3_

Imagem de topo retirada de Wikipedia.

Mensagens populares